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-É verdade isso sim senhor. Lembro algumas pessoa que até era de maningue engraçado, de pôr riso na cara da gente mesmo… originais como se diz. Não originais do lugar mas das maneira de mostrar figura de importância e dizer coisas de boniteza. Lembro de uma de Gillete…
-Conheci muito bem. Mas esse não era o seu nome verdadeiro – interrompeu.
-Era sim patrão…Oh! Desculpa patrão... custa muito esquecer este palavra de tratamento. Desculpa outra vez senhor Fernando. Mas eu lembro bem. Era de Gillete sim senhor. Todo gente falava.
-É verdade. Chamavam-na de Gillete porque era mulher de um dentista que se chamava Gil e o povo colono baptizou a ela com nome feminino de Gil.
-Verdade? Essa
-Lembro da Gillete sim senhor e muito bem. Gostava muito de cinema e era raro faltar a uma estreia. Até levava o cão com ela a ver os filmes…
-Disso
-Tem toda a razão, meu amigo Gimo. Sou também desses tempos e sou testemunha viva dessas aberrantes e injustas discriminações.
Respeitou por momentos o recolhimento evocativo do companheiro e continuou:
-A Gillete era uma figura única, muito típica mas também muito grada, entre os colonos da sociedade beirense. Era como uma mascote-múmia que, se por uns era ridicularizada, por outros era admirada e respeitada... – e oferecendo-lhe um sorriso aberto de satisfação, retribuiu, repetindo o que ele havia dito: –...meu conterrâneo amigo!... Assim fica melhor essa forma de nos tratarmos. Mas por você é mais costumado, é tratamento de respeito e amizade. Por amigo prefiro, porque afinal é o que somos, não é verdade? Estávamos é esquecidos um do outro.
-Se o
-Afinal aprendeu depressa alguns termos usados no sul – disse Fernando, e, retomando o fio à meada, recordou:
-A Beira era rica de personagens excêntricas e requintadas. Lembro-me de um doutor…
-Não avança mais meu amigo conterrâneo – interrompeu Gimo com entusiasmo -, não avança mais. É aquele doutor que usava só metade dos óculo. Como se chamava aquela coisa?
-Monóculo. – respondeu o inquirido, voltando a repetir: –Chama-se de monóculo.
-Isso mesmo. Chamava-se assim, de monóculo. Ele não precisava de óculo inteiro para ver a gente. Punha aquele redondo de vidro no olho só para fazer chibante. Era bonito inté. Tinha moldura e corrente fina de prata, igual à dos artesanais ourives da Ilha de Moçambique. Era p’ra não deixar cair no chão e estragar de vez…
-É
-Ah sim!? Não sabia desse conhecimento…
-Contava-se até que ele tinha levado o que restava do monóculo ao oculista para consertar. E quando o foi buscar, mais tarde, a menina do balcão, que era muito bonita e gostava de brincar de atrevimentos, lhe teria perguntado: -O doutor quer que embrulhe ou leva no olho? …
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Do livro "Mangachana, a Feiticeira e outras histórias” a publicar brevemente.