19/06/07

Erosão nas praias

Invasão da praia pelo mar

... Os sinais de erosão que observei, a inclinação da praia, e pobreza das dunas de areia tanto pelo que respeita a extensão como a peso, e o baixo nível a que se encontram os terrenos situados por detrás dessas dunas, nível que regula pelo das preia-mares de águas vivas vulgares ou poucas polegadas mais alto, tornam indispensável a adopção tão rápida quanto possível de quaisquer meios de defesa. Pelos sinais visíveis na praia pude verificar que as marés mais altas alcançaram já a base daquelas dunas, as quais, conforma tive ocasião de observar, têm apenas 33 a 36 pés de largura na base e cerca de 4 a 5 pés de altura.
Segundo o relatório elaborado em Julho de 1910 pelo ..., o mar tem avançado continuamente e em poucos anos árvores que dantes estavam em terreno firme vêem-se agora na praia.
É evidente que o primeiro passo a dar no sentido de combater a erosão é averiguar quais sejam as causas que a determinam, mas como para isso seriam indispensáveis observações feitas durante um período de tempo muito mais longo do que aquele que a prudência aconselha que se espere para tentar qualquer medida no sentido acima mencionado, torna-se necessário assentar desde já em qualquer coisa, de modo a serem postas em prática ao menos medidas experimentais tendentes a defenderem das invasões pelo mar os terrenos por detrás das dunas.
Há dois aspectos principais sob que pode manifestar-se a erosão. Pode ser determinada apenas pela acção das marés e do vento desde um pouco abaixo do nível da baixa-mar até ao da preia-mar, ou pode ser devido ao abaixamento do fundo do mar lá fora e à gradual aproximação de maiores fundos em direcção à praia. Se a razão for esta tornar-se-á extremamente difícil, se não impossível, remediar o caso, pois que o mar iria infraescavando e lançando por terra quaisquer obras de defesa que se construissem.
Eu creio, porém, que toda esta costa tende a elevar-se de um modo muito semelhante ao que se observa mais ao sul, na Zululandia, e não me parece que na foz de um rio como o Pungué, cheia de materia aluvial, possa ter lugar um grande abaixamento, especialmente a uma pequena distância para o norte. E os aspectos dos bancos indicados na carta do Almirantado tende a confirmar esta suposição.
A formação do banco na Ponta Gêa denota igualmente a deslocação para sul das areias que formam a praia a um nível superior ao da baixa-mar, pela acção do vento e da ressaca; e por isso se me afigura que a erosão se dá apenas na faixa compreendida entre um nível um pouco inferior ao da baixa-mar e o da maré cheia, dando assim lugar à grande inclinação que a praia tem actualmente.
O único remédio para este mal está a meu ver na construção de "groynes" (quebra-mares) e, talvez mais tarde, de uma pequena muralha acima da linha do preia-mar.
Como está averiguado que a fuga das areias da praia tem lugar em direcção ao sul, e que a conservação do banco da Ponta Gêa está dependente dessa condição, torna-se necessário que a construção dos "groynes" se comece a partir daquela extremidade da praia e se continue gradualmente para leste. Se se procedesse pela forma inversa e se começasse o assentamento dos "groynes" em qualquer ponto a leste e se fossem construindo em direcção à Ponta Gêa aconteceria que esses "groynes", sendo bem construídos, impediriam a marcha das areias da paria e aumentaria a erosão ao sul dos mesmos, isto é, para os lados da Ponta Gêa ...

in relatório de 1911 do célebre engenheiro inglês capitão Calhcart W. Methven

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns!
Beijinhos beirenses

Unknown disse...

É muito interessante re'ver'/ler a nossa Beira neste blogue feito com muito equilíbrio e muita sensatez. Entre o Chitengo e a cidade, vivi esse pedaço de Moçambique durante 36 anos.
Parabéns, Fernando Ferreira Mendes!